Hello, Hello!
Primeiramente gostaria de agradecer a todos pela recepção carinhosa que todos tiveram ao ler a primeira edição do NIDO. Obrigada. O Nido vem de Ninho, em italiano. Em VC, vejo muito a necessidade de ter um local onde ideias, conceitos, teses, empresas podem se amadurecer e se preparar para lançar lindos e altos voos. Então, criei este espaço aqui com intuito de trocar informações sobre este mundo, seus acontecimentos, minhas opiniões sobre, esperando que todos tenham a chance de voar, como merecem.
Esta semana também tem o Dia Internacional da Mulher. Como mulher, não posso deixar de mencionar esta data e a importância que ela tem para a contínua busca de equidade entre os gêneros. Ao pesquisar sobre a quantidade de mulheres investidoras ou founders no Brasil e mundo, percebo que ainda temos uma longa jornada pela frente, que a cada ano, porém, evolui positivamente. Falo um pouco mais disto no final desta edição.
Espero que goste da leitura, caso queira conversar mais, por favor, não hesite em responder a este e-mail. E o mesmo vale para aqueles que não querem mais recebê-lo. Um simples “reply” com um pedido para cancelar a subscrição é o que se precisa para tirar o seu nome do mailing.
Dois Passos
Para Trás…
Na virada do ano o Crunchbase(i) confirmou o sentimento de cansaço da maioria dos founders que foram a mercado captar recursos durante 2023 – o volume investido no mundo em Venture Capital ficou em $264B, 60% do volume captado em 2022 ($433B), que já havia caído mais de 30% do captado em 2021 ($644B). Ou seja, o investimento do ano passado ficou 40% do pico apresentado em 2021. Se excluirmos os montantes dedicados aos foundational models – Anthropic, OpenAI e Inflection AI – 2023 vira ⅓ de 2021. Embora todos soubéssemos que a pandemia e juros baixos foram grandes turbinas para o ecossistema, havia uma expectativa de uma queda menos acentuada em 2023 e que os valores ficassem próximos dos patamares de 2018 ($320B).
Está claro que muita coisa vai mudar no cenário competitivo dos diversos setores e segmentos da economia com o surgimentos das AI-native platforms e sua adoção e incorporação na construção de produtos e serviços. Como acontece quando inovações são introduzidas, alguns segmentos vão sofrer com perda de receita e margens para outros players. O surgimento de novos mercados, o uso desta tecnologia compensam este desequilíbrio no mercado.
Há uma expectativa, da qual eu compartilho, de que a criação de valor com AI ao redor do mundo(ii) trará impactos de tamanho e em momentos diferentes em setores da economia. Essa semana, por exemplo, Bill Gurley e Brad Gerstner (podcast BG2) conversaram sobre o impacto que as buscas por informações em plataformas como ChatGPT vão acarretar ao Google, em especial para a receita relacionada à ferramenta de pesquisa. Ou seja, a mesma empresa que a 20 anos atrás mudou a nossa sociedade ao revolucionar a forma com que consumimos informações e construiu um monopólio, poderá enfrentar um grande desafio em uma unidade de negócio que representa mais da metade de suas receitas atuais. Apesar do Google já ter construído ferramentas para competir com o ChatGPT, os custos de buscas nas plataformas de AI ainda são bem maiores e o cenário competitivo exponencialmente mais desafiador.
Em que pé estamos no Brasil e quais são as perspectivas para nosso ecossistema?
O começo de 2024 segue discreto. Tenho conversado bastante com gestores e parceiros de jornada em VC e vejo que quem ainda tem dry powder(iii), investe com muita cautela e prevalece na busca por desconto de valuation. Importante, no entanto, lembrar que mesmo com redução acentuada de liquidez, os valuations de investimento em early stage foram os que menos caíram – do pico que aconteceu por volta do final de 2020 e começo de 2021 até o final do ano passado. Durante as rodadas de seed, eles baixaram apenas 6% enquanto séries As e Bs, 55%-65% e séries Cs e Ds, 76%(iv).
As hipóteses são várias. Para começar, as empresas de AI estão comandando os prêmios e, consequentemente, distorcendo as médias. Sabemos já que early stage é quando a preocupação em relação a diluição de founders é maior. Afinal, são empresas ainda pequenas e, portanto, permitem facilidade de ajuste de suas estruturas de custo para garantir mais eficiência. Desta forma, há a possibilidade de captações menores ou run way maiores e estamos presenciando um aumento do volume de rodadas feitas com instrumentos conversíveis, no qual o que conta é a rodada seguinte.
Vejo que várias casas de VC já começam a testar o mercado ou se preparam para iniciar captação de novos fundos nos próximos meses.
Já na Faria Lima… investidores e alocadores seguem extremamente criteriosos na escolha dos gestores. Quanto mais eu converso, mais entendo e percebo a dificuldade de selecionar um parceiro em Venture Capital. Já é difícil de entender e comparar teses de investimento e a complexidade aumenta alguns pontos quando se acompanha o ecossistema de fora. Mas o problema maior não é este, e sim, o de avaliar se os gestores realmente seguiram e/ou seguirão suas teses.
Na tentativa de buscar detalhes sobre os investimentos feitos e track record(v), a grande maioria dos investidores, que não conhece profundamente de VC, tem muita dificuldade em avaliar como as decisões no passado foram tomadas, como suas teses se refletiram em suas escolhas e como as mesmas vêm sendo refinadas e atualizadas de acordo com as movimentações que estamos vivendo no mercado de tecnologia.
Todos sabemos que o Brasil está longe do epicentro de AI, entretanto, muita coisa vai mudar no cenário competitivo dos diversos setores e segmentos da economia com a adoção de AI para construção de produtos e serviços. Resgatando o exemplo do Google que citei acima, muitas empresas e startups vão precisar adaptar seus negócios e estratégias de vendas e marketing para um contexto onde as buscas não são mais exclusivas de uma plataforma, no caso, o Google. Na verdade, é muito dificil de entender qual será o impacto da entrada de scaleups turbinadas com AI para os players existentes. Ao olharmos para toda a cadeira, é dificil prever quais elos serão os mais visados, seja como ponto de entrada para novos competidores, seja para serem excluídos.
A compreensão de tudo isso é bastante difícil dada a complexidade inerente ao momento onde duas plataformas tecnológicas se encontram e alteram totalmente a dinâmica competitiva do setor.
Dar clareza a este cenário e discutir até onde conseguimos entender os impactos e os riscos são também os objetivos dessa newsletter, bem como o espaço que me permite trocar e mostrar as minhas visões e teses de investimento. Se você quiser trazer seus contrapontos e trocar ideias a respeito ou se tiver dúvidas, eu vou adorar conversar.
De Olho
nas Biotechs
Recentemente encontrei um fellow do Kauffman e amigo investidor focado em Advanced Therapies (intersecção de biotech e farmacêuticos – health tech) – Dmitry Kuzmin (Dima) é Investidor e Managing Partner da 4BIO, fundo baseado em Londres, que está captando seu terceiro fundo. Desde 2015 a 4BIO investiu em 35 empresas e fez 13 saídas, sendo 4 IPOs.
No Brasil nós não temos relevância no desenvolvimento de soluções de terapia avançada e, ao conversar com o Dima, fiquei impressionada como nos últimos 5 anos o setor triplicou de tamanho e alcançou US$300BI de market cap. Para conhecer um pouco do trabalho e track record da 4BIO, segue aqui o deck do fundo novo(vi) e gravação de uma conversa bem interessante que eu a Lully tivemos com ele em 2021 em um dos episódios do podcast Astella Around the World(vii).
Se você tem interesse em mergulhar no segmento e considera investir em biotech, fale comigo que terei a honra de fazer a ponte com o Dima. Ele terá o maior prazer em conversar seja via call ou pessoalmente quando ele estiver no Brasil na semana de 22 de abril. Oportunidade única para quem conhece um pouquinho do setor de saúde e quer entender melhor o que está por vir.
MOVVendo
a Educação
Uma das primeiras EdTechs no Brasil, a Movva, está usando Inteligência Artificial para melhorar a experiência de estudantes universitários e reduzir a desistência.
Desde 2015 eu acompanho a jornada desta empresa que desenvolveu, ao longo desse tempo, diversas iniciativas que promoveram acesso à educação, melhor performance escolar e até mesmo educação financeira por meio de Ciências Comportamentais e Tecnologia.
O ano passado, a Movva decidiu atuar no mercado de Ensino Superior Privado, em que a taxa de evasão ainda chega a 40% no Brasil.
Tudo aconteceu quando Rafael Corrêa (CEO com vasta experiência em tecnologia) conheceu Guilherme Lichand (atualmente professor de Stanford e Chairman of the Board da Movva), Rafael Vivolo (CRO) e Marcos Lopes (CFO). Neste encontro com o time de fundadores da Movva, Rafael havia se impressionado com a experiência e conhecimento deles sobre educação e quis participar da construção desta história. Juntos, pivotaram a empresa, colocando-a em uma rota de sucesso. E seis meses depois da entrada de Rafael, a startup alcançou PMF (product market fit) após alguns testes bem sucedidos com uma população de cerca de 20 mil alunos em duas Instituições de Ensino Superior (IES). Hoje, a Movva espera encerrar o primeiro trimestre com 127k de alunos monitorados.
Este movimento aconteceu de forma semelhante nos Estados Unidos há cerca de 10 anos. Empresas como Mainstay, Watermark e EAB, voltadas para Sucesso do Estudante, se popularizaram e fortaleceram a entrada nas principais universidades do país, em uma época em que havia uma queda na taxa de matrículas mesmo com incentivos financeiros.
Mas o que a Movva faz, afinal?
A Movva oferece uma abordagem única para aumentar a retenção e o engajamento dos alunos em IES privadas. A solução é baseada na combinação entre Ciências Comportamentais e Inteligência Artificial. O objetivo? Mudar a decisão de evasão através de conteúdos assertivos para cada etapa da jornada do estudante. Estes comunicados são enviados por SMS, push notification ou WhatsApp. A estratégia da Movva para as IES contempla:
• Análise de Dados: coleta e analisa um conjunto grande de dados advindos dos sistemas escolares e monitoração frequente seja do login em ferramentas, seja do pagamentos de mensalidades, entre outras ações de alunos, extraindo insights capazes de ajudar a identificar os alunos em risco, que possam necessitar de apoio adicional, antes que seja tarde demais para agir, trazendo-os de volta aos seus caminhos de aprendizagem.
• Diagnóstico e Personalização: Raio-x detalhado para entender os desafios da permanência dos alunos, customizando o conteúdo conforme as necessidades identificadas.
• Resultados Mensuráveis: As IES podem acompanhar os indicadores das interações dos alunos com os conteúdos personalizados, avaliando o impacto direto no engajamento e na retenção.
• Análises Preditivas: São oferecidos insights para que a instituição possa agir proativamente, prevenindo a evasão antes que ela aconteça.
• Impacto Positivo: Além do aumento da receita para as IES, a Movva promove uma comunicação aperfeiçoada com os alunos, fortalecendo vínculos e melhorando o engajamento e desempenho.
E isto é só o começo. Na semana passada descrevi como a Traive trabalha com bases de dados para chegar em um score dinâmico de crédito ou capacidade de pagamento dos produtos rurais através do enriquecimento de bases de dados diversas. A Movva parte do mesmo princípio: chegar em uma forma de padronização de informações para que a satisfação do estudante possa ser medida, o que permite as IES e outros players atuarem para melhorar a experiência dos estudantes.
O que mais me chama atenção na Movva é que eles conhecem profundamente o aluno, sua realidade e quais são os fatores que influenciam positiva ou negativamente sua jornada, aprendizado e futura integração com o mercado de trabalho e sociedade.
Esse conhecimento permite que a empresa atue em parceria com diversas instituições do ecossistema educacional, como uma fonte de insights para a criação de ações complementares às existentes, tais como aulas de reforço customizadas para alunos com perfis comportamentais específicos, auxílio no “match” entre aluno e programas de estágio, concessão de crédito mais alinhado às especificidades de cada aluno – e consequentemente mais barato – , entre outras.
Essa inteligência fortalece uma conexão mais eficiente entre as IES e o mercado de trabalho, aumentando a empregabilidade dos alunos de forma geral e ajudando-as a reestruturarem o design instrucional, atualizando-o para as necessidades atuais da sociedade.
Ao acessar, cruzar, extrair e analisar bases de dados sobre ocomportamento de estudantes universitários, a Movva constrói barreiras de entrada e diferenciais longevos, conquistando assim o seu Right to Win.
A capacidade crescente de AI em gerar insights vai permitir outros inúmeros benefícios aos estudantes e instituições de ensino, como aprendizagem adaptativa, democratização da educação, previsibilidade de demanda por cursos e profissionais diferentes, oportunidades de trabalho de acordo com perfil e performance dos estudantes, entre outros. A oferta desses benefícios de forma previsível é um grande atrativo para plataformas como a Movva que agrega diversos stakeholders e players e promove sua interação, oferecendo mais valor a todos da cadeia e, desta forma, criando um ecossistema bastante poderoso.
E não posso deixar de expressar minha expectativa de que no futuro, a Movva e outras ferramentas desta linha educacional, possam nos trazer insights para resolução de distorções e iniquidades históricas como a baixíssima presença de mulheres em carreiras de exatas ainda nos dias de hoje. Nas áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) representamos apenas 33% no ensino superior e 31% no mercado de trabalho. Uma longa jornada pela frente, mas um caminho que hoje pode ser visualizado e tido como cada vez mais possível. É o que, ao menos, eu acredito.
Um abraço e até o próximo Nido!
Referências:
• (i) https://news.crunchbase.com/venture/global-funding-data-analysis-ai-eoy-2023/
• (ii) Mckinsey fez um estudo mostrando que AI pode adicionar US$13-18TRI em
atividade econômica até 2030.
• (iii) dinheiro comprometido de investidores e disponível para investimento
• (iv) https://www.newcomer.co/p/no-mere-reversion-to-the-mean-data
• (v) retornos e resultados históricos
• (vi) https://docsend.com/view/9rcxfgyg99wiusmz
• (vii) https://open.spotify.com/
episode/7jpwkPu91lNGzN1Etnts6m?si=m7Ev29kmRwKJYEneEy0bwg