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O frio e doloroso inverno está realmente indo embora?

Hello, Hello!

Uma pergunta que sempre me fazem sobre os investimentos em VC é: o frio e doloroso inverno está realmente indo embora?

Vamos dizer que temos ainda a previsão de dias frios mas seguidos de dias com muita probabilidade de sol e mais primaveris.

Esta é mais ou menos a síntese do que tanto eu quanto outros investidores e amigos de jornada acreditamos. Nos últimos meses, tive a oportunidade de encontrar vários deles em alguns eventos que participei – South Summit, BSV, Web Summit – e aproveitei a convivência para trocar valiosas ideias.

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O mesmo que fiz aqui, fiz lá fora, também recentemente. Durante a minha passagem por São Francisco visitei alguns investidores americanos que acompanham o ecossistema brasileiro e seguem, em sua maioria, fazendo investimentos pontuais no late stage. Outros, iniciam sua exposição a fundos e gestores brasileiros, pela facilidade de acompanhar o contexto e mapear a cadeia.

Do lado dos empreendedores, continuo auxiliando diversos times a encontrar soluções para navegar nesse momento de baixa liquidez, e alternativas de funding para promover crescimento com menor custo e explorar, juntos, minha tese de ecossistemas.

Ao conversar com estas três personas distintas essenciais para o setor – os investidores brasileiros, internacionais e os empreendedores – comprovo a minha visão e a de muitos colegas de que todos eles estão vivendo um momento de transição no mercado e na tecnologia. E, ao juntar todos estes pontos de vistas, chego a dois panoramas futuros:

 
The bright side of the sun

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Neste inverno que já dura três anos, tivemos muito amadurecimento. E, por esta razão, temos várias oportunidades de investimento muito interessantes – times com conhecimento profundo em Tech e em suas respectivas cadeias de valores. Com produtos que excedem MVPs por serem mais elaborados e escaláveis e, sem contar, no conhecimento e hipóteses mais estruturadas sobre estratégia de Go-to market. Além disso, vários desses empreendedores contam com cenários bem menos competitivos, dado que a falta de liquidez fez com que outros times reduzissem suas despesas de marketing e vendas ou até mesmo – e infelizmente -, desistissem da jornada.

E quando se ganha este tipo de maturidade, como está acontecendo no mercado brasileiro, o cenário muda. Recados antigos já não são mais necessários. Inúmeros founders já estão hard wired, ou seja, eles já passaram do beabá, aliás, estão bem distante dele, percorrendo distâncias que até eu mesma me surpreendo. As conversas se tornam ricas, fluidas e, porque não dizer, empolgantes?

Não posso deixar de mencionar que os fundadores que estão pensando em AI e construção de ecossistemas vão ajudar o mercado como um todo a acelerar a adoção da tecnologia no B2B. E isto também é um fator que contribui para o sol do amanhã.

 
 
The winter is staying… a little bit longer.

Há uma percepção maior de risco para investimento em Venture Capital. Investidores e alocadores seguem reticentes quanto ao momento de investir em alternativos, em geral, aguardam sinais de que o inverno acabou.

Um sinal interessante para acabar com este inverno seria o da volta dos IPOs – tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. O que sucintaria no retorno e na irrigação de recursos. Mas, quando comento isto entre as rodas citadas acima, recebo como resposta alguns discursos controversos. Enquanto uns têm a expectativa da sinalização dos investidores gringos para aumentar a alocação em países emergentes, dado o desconto em Valuation, outros estão preocupados com janelas de liquidez, que estão cada vez mais raras e exigentes.

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Há quem diga que IPOs e a manutenção de companhias abertas tornaram-se tão custosos que só com receita anual acima de US$200-300MM para vir a mercado. E a expectativa de múltiplo está mais para 5x receita anual do que o antigo 10x. Ou seja, o milestone de US$100MM para ir a mercado com um múltiplo de 10x pode não ser mais suficiente, muito menos provável.

Estamos presenciando um ceticismo maior, bastante comum em momentos finais de ciclos ou os parâmetros realmente mudaram? Uma coisa é certa: de um modo ou de outro, o VC precisa pensar em outras estratégias para garantir liquidez.

Exemplo, o mercado de secundárias no Brasil ainda é pouco explorado e, diferente dos Estados Unidos, o desconto é muito grande. Enquanto nos EUA, há mais liquidez e tem players trabalhando a sua cadeia, aqui no Brasil essas transações são vistas com desconfiança, uma vez que os compradores contam com pouquíssimas informações sobre os ativos e é o que, normalmente, justifica o desconto. É, entretanto, um segmento que deveria ser visto com mais bons olhos porque poderia garantir a tão almejada liquidez entre rodadas.

Por esta e tantas outra razões, eu sempre falo sobre a importância de se ter players dedicados a estágios e teses diferentes para justamente garantir mais fluidez e liquidez para os investidores em cada fase. Por mais que há um maior amadurecimento, ainda temos muito que evoluir.

 
 
 
Veredicto final (será?).

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Eu acredito que os sinais de maturidade do ecossistema brasileiro chamam atenção de investidores, sim. No entanto, não conseguimos prever uma mudança de apetite e estratégia de alocação dos investidores brasileiros. Dado que a maioria deles é volátil e não tem alocação consistente na classe de ativos, alguns VCs começaram a focar seu esforço de captação fora do Brasil – um processo lento que requer bastante tempo para construção de relacionamento e evidências de track record.

Para o investidor, a comprovação, de que temos mesmo um ecossistema maduro e sustentável, está ligada diretamente a uma perspectiva de maior liquidez – mais saídas, através de M&A e IPOs – e também em uma evolução no mercado de secundárias.

A primavera pode vir da Faria Lima com a volta das grandes transações. Dada a tendência de mais exigência para os IPOs, não existe outro caminho senão o de alavancar retorno entre rodadas – mais oportunidades para fundos late stage comprarem participação de fundos early stage. O que podem contar, inclusive, com a ajuda de founders para acesso à informação das startups e a construção de Valuation, possibilitando menores descontos.

O VC está vivendo no início de uma primavera londrina ou de NY, onde há a chance de fazer sol e calor, mas você ainda não pode esquecer o seu casaco.

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